Histórias Reais

Pilotando em Família

Cerca de um mês após ter tirado sua habilitação, Gabriela viaja até o Atacama de moto

Pilotando em Família é o relato emocionante da nossa leitora Gabriela Oliveira Freitas, em sua aventura até o Atacama.

“Mãe, o que você pensaria se me visse pilotando?”

Foi esse o pensamento que percorreu minha mente por diversas vezes ao longo dos 9.600km que rodei entre 20/12/18 a 13/01/19.

Sorte das pessoas que são criadas por mães que acreditam nelas. Minha mãe era dessas. E, por causa de tanto incentivo, eu sempre tentei fazer com que ela sentisse orgulho de mim.

Se tem algo do que ela se orgulhava era de ter uma filha determinada e cheia de coragem (ainda que não seja exatamente assim que eu me enxergue).

Quando comecei a minha viagem, dias depois de completar um mês de habilitação, eu não tinha noção de que o que eu enfrentaria exigiria coragem.

Fui descobrir isso na primeira curva da Serra do Rio do Rastro, lugar que minha mãe se orgulhava muito de ter ido. Ela tinha até um quadro com a foto da serra, escrito “eu fui”. 

Primeira curva, aquele frio na barriga, descendo a serra de primeira marcha, por causa da insegurança e da inexperiência. Escuto meu irmão dizer no comunicador: tem gente que está morrendo de orgulho de você.

Ele se referia a minha mãe. Nem preciso dizer que meus olhos se encheram de água e desci o resto da serra com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Quando cheguei no final, eu desci da moto e saltitava. Ali eu fui descobrir que eu estava fazendo algo grandioso e olha que a viagem estava só começando. Era só o quarto dia de viagem!

Eu ainda ia cruzar o Uruguay, a Argentina, atravessar as Cordilheiras dos Andes, enfrentar o trânsito maluco de Santiago, pilotar no meio do deserto, atravessar as Cordilheiras de volta… Mal sabia que ainda enfrentaríamos um temporal na estrada, ventos fortíssimos, alagamentos e trechos bem esburacados.

Uma verdadeira aventura! Quando havia um trecho difícil na estrada, dizíamos uns aos outros: “não era aventura que vocês queriam? Taí!”

E meu irmão (que fez um verdadeiro trabalho de coaching de pilotagem comigo) perguntava: tá realizando o sonho? Eu só dizia: claro que não, eu jamais sonhei que teria uma moto dessas, muito menos que iria tão longe pilotando!

Ah, mas quem tem uma família dessas só pode ir longe mesmo! Não foi só a minha mãe que me ensinou a ter coragem.

Meu pai e meu irmão seguiram firmes comigo. Acreditaram que eu poderia tirar a carteira (aliás, ficaram arrasados quando não passei de primeira), ajudaram a escolher e comprar a moto, não duvidaram em momento nenhum que eu daria conta.

Chega a ser fofo o jeito que meu pai comenta com todo mundo que fizemos essa viagem comigo pilotando ao lado dele. E era lindo meu irmão dizendo no comunicador: “boa curva, tá indo bem, tô orgulhoso de você”. Claro que chamaram atenção quando precisava, né? E foram me ensinando muita coisa.

Um monte de gente disse que é uma irresponsabilidade alguém com tão pouco tempo de habilitação fazer uma loucura dessas, ir de Belo Horizonte ao Atacama. Mas esse monte de gente não conhece a família que eu tenho e não sabe que eles tornam toda a vida muito mais fácil.

E foi assim que eu fiz a minha primeira viagem de moto pilotando, acompanhada da energia boa da minha mãe e dos constantes incentivos do meu pai e do meu irmão.

Pilotando em Família, por Gabriela Oliveira Freitas

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Amanda Pagliari

Desde 2009, primeiro portal brasileiro a abordar a abordar o mundo do motociclismo para mulheres. https://www.instagram.com/amanda.pagliari/

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